quinta-feira, 28 de março de 2013

Huis Clos


Não faz muito tempo ganhei uma coleção de 4 livros de moda editados pela Vogue inglesa. Os que ganhei são publicados no Brasil, pela editora Globo: 4 títulos de capa dura, impressão belíssima. Uma pena o descuidado com a tradução e equívocos de uma revisão que não pescou coisas como “a estilista Isabella Blow”. Sempre sofro quando as coisas não recebem o tratamento que merecem, e afinal perde todo mundo, principalmente o leitor.

Equívocos à parte, comecei pelo volume dedicado a Alexander McQueen. Os outros falam de Elsa Schiaparelli, Christian Dior e, claro, Coco Chanel. Quando folheei os volumes pela primeira vez, comentei com os colegas presentes: uma pena que não ensinem isso na escola. Eu me referia a Gabrielle e sua elegância. Quanto mais cafonas e vulgares ficamos, mais eu penso que, além de geografia, português e matemática, devíamos aprender estética também. E arte, desde cedo.

Voltando ao foco: McQueen. O livro me levou aos vídeos dos desfiles, e passei noites conectada assistindo às performances delirantes do estilista. Sarabande e Deliverance estão entre as minhas preferidas. Imersa no universo fantasioso, por vezes sombrio, do estilista, hoje saí de casa com meu lenço de caveira no pescoço e uma calça xadrez imaginária. Não arriscaria os sapatos de Plato’s Atlantis.

O lenço de caveira foi um presente da Cissa, que hoje foi portadora de notícias menos felizes. A morte de Clô Orozco, minha estilista brasileira preferida, foi uma daquelas tristezas fininhas que vão se disfarçando de um consumo desenfreado de chocolate. Mesmo que seja véspera de Páscoa. Clô, para mim, era uma brava resistente da elegância. Gosto dos cinzas, dos cortes, do conforto e nunca vou parar de me arrepender de não ter comprado uma camiseta com estampa dos discos dos Smiths, de uma coleção da Maria Garcia. Tive a sorte de ver esse desfile, num SPFW que parece já fazer décadas. Sempre quis, também, a bolsinha em formato de bomba. If it’s not love, cantava o Morrissey. Assisti o desfile da Huis Clos naquela temporada também, e lembro da minha felicidade ao sair do Ibirapuera aquele dia.

Gostei do texto publicado noblog da Cosac Naify, que publicou uma belíssima coleção de nomes da moda brasileira da qual a Huis Clos fazia parte, estes sim, livros impecáveis como tudo o que a editora faz, e como as roupas que Clô Orozco fazia. R.I.P.
 
Vestido Huis Clos.

                                                                                 O lenço McQueen.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Desejos

Pela Chanel e por Lagerfeld eu até me casava. Mas como isso é uma possibilidade remota, diria que levava o casaco de lã, com toda coceira que ele poderia me dar, pra Flip.



quarta-feira, 4 de abril de 2012

Privilégios


Artigo 5
Cabelo bonito, dentes excelentes, pele boa, nunca áspera. Odor suave e leve. Em 1 de fevereiro e 1 de junho de cada ano, as roupas do privilegiado voltam a ser como eram na terceira vez que as usou.

Henri-Marie Beyle, a.k.a Stendhal, numa lista de desejos em forma de tratado, escrita em 1840. 23 artigos dessa lista de privilégios estão publicados na Serrote #10.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Por outro lado...


Há alguns anos atrás, numa aula do curso de jornalismo de moda do Senac, a professora propôs um pequeno debate em torno do conceito de um desfile. Mais um SPFW havia terminado, uma pequena parte da turma tinha feito uma cobertura amadora do evento e eu tinha me debulhado em lágrimas no desfile do Ronaldo Fraga (“Tudo é risco de giz” – inverno 2009, se não me falha a memória).

É claro que as performances do Ronaldo estavam no cerne da discussão. Algumas outras marcas investiam (e ainda investem) em apresentações elaboradas em que não apenas a roupa era estrela da festa, mas os desfiles de Ronaldo Fraga sempre tinham um apelo dramático que os outros não possuíam. Jum Nakao já tinha encerrado o seu show, infelizmente. É claro, também, que falamos de Alexander McQueen, ainda vivo àquela época, além de outros nomes internacionais como Hussein Chalayan.
 
Há cerca de duas semanas, li uma entrevista com Ronaldo Fraga na revista da Gol (linhas aéreas), e hoje topei com essa da TPM.

Em algum momento da minha vida, cruzei com Ronaldo, a mulher e os filhos numa estação de trem em Ouro Preto, e tive vontade de ir cumprimentá-lo, o que infelizmente não fiz. De lá pra cá, tornei-me cada vez mais tiete do homem: gosto dos óculos, da loja de São Paulo, do sapato que tenho dele no armário, das performances, do nome dos filhos (um moleque chamado Graciliano – queria ter um filho só pra batizá-lo assim), das roupas, da exposição, dos desenhos, do bigode.

Sobretudo, gosto das ideias do Ronaldo Fraga, da forma de pensar a moda e das tradições que ele insiste em resgatar, e que vão muito além dessa discussão boba (sobre a qual a mídia e a "crítica" também se debruçavam - e ainda se debruçam) do valor de um desfile-performance X desfile tradicional. O Ronaldo Fraga é uma dessas pessoas de quem eu adoraria ser amiga, e a quem não me canso de elogiar.

 
“(...) ali aprendi que a escolha da roupa é uma conquista amorosa. Uma conquista amorosa com o outro, com o seu grupo, com você mesmo. Foi daí que peguei gosto em ouvir a história do outro e em contar uma história com a roupa, porque ficava ouvindo as histórias. Ficava imaginando: “Eu tenho que tirar da fala dela uma roupa que nem ela está sabendo que quer”. Além disso, enquanto desenhava, assistia aos vendedores desenrolando os tecidos. Eu sentia o cheiro daquilo, sinto esses cheiros até hoje. Sou capaz de dizer a composição de um tecido pelo cheiro que ele exala ao ser rasgado, ao ser cortado.” - Ronaldo Fraga


sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

The queen is dead

Meus ícones de estilo e elegância certamente não estão em sintonia com o que pregam os descolados da moda, e quando eu vejo esse tipo de entrevista, respiro aliviada, preparo um chá, morro de saudades da Vivienne Westwood, essa sim, alguém que soube ser punk quando isso ainda fazia sentido.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Awesome people hanging out together

Hubert de Givenchy e Audrey Hepburn. Mais aqui.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Fashion victims

Uma das melhores coisas de trabalhar em editora é a quantidade de informação a que ando tendo acesso. Biografias, autoajuda, tudo ganha um sabor e pode ser revertido em conversas de bar e afins. Essa semana caiu nas minhas mãos um livro que me impressionou e deixou minha cabeça fritando. Como ainda não foi publicado lá fora, não posso revelar muito a respeito. Trata-se de uma extensa pesquisa sobre nossos hábitos de consumo e propõe que repensemos nossas necessidades na hora de compor  nossos armários. 

A autora levanta questões relevantes, que andam em pauta e que atendem, geralmente, pelo nome de “consumo consciente”. É fácil reduzir isso a máximas como “compre em brechós” ou “troque roupas com as amigas” etc. Mas as camadas da engrenagem são muito mais complexas do que apenas usar tecido de bambu pra fazer lingerie. 

Quando trabalhava com estilo eu já achava todo esse papo de viscose bem esquisito. Como é que do nada todo mundo resolveu fazer malha e algodão de bambu ou eco-alguma coisa? Só porque a fonte da matéria-prima é renovável, então estamos comprando roupas “verdes”? Adianta usar fibras ecologicamente corretas se no processo de transformação, venda, costura, transporte etc. usamos rigorosamente a mesma metodologia dispensada a toda a linha de produção? Se a sacola da loja é de plástico? Ou se é de lona fabricada por chineses?

Entre mil apontamentos e dados alarmantes de todo o impacto que o fenômeno do fast-fashion causou mundo afora, a autora conta casos que parecem piada, tipo a icônica “I’m not a plastic bag”que apareceu por volta de 2007 e que gerou a febre das ecobags ao redor do planeta. Consta que a criadora da bolsa fechou acordo com uma grande rede de lojas inglesa, que vendia a mesma e a entregava às clientes após o pagamento numa sacola de plástico. Tchã nã. Além disso, sim, a sacola foi produzida na China.

Outro contrassenso é pensar que o conceito de fast-fashion é a exata antítese do conceito de estilo, e do que a moda deveria representar. Se gostamos de roupas pelo que elas expressam de nós, então a última coisa de que precisamos é cair em armadilhas do tipo “tem que ter” ou “it bag” ou “status shoes” ou whatever expressão afetada e cafona que as editoras de moda inventem. Não faz nenhum sentido cultivarmos os mesmos ícones de estilo, os mesmos desejos e andarmos todos de espadrilles nesse verão porque esse é o último grito. Seriously. Tá na hora de diferenciar moda de consumo. E parar de ler a Vogue, não só porque é ruim, mas porque a gente também não precisa da Anna Wintour corroborando para a matança de animais em nome de peças feitas com pele de mink. É o fim da picada e so last século.

Complica para o lado de quem quer consumir com mais ética. Preços altos não são sinônimos de mão-de-obra bem remunerada, o que hoje é o principal problema. Foi outro dia que um fornecedor da Zara foi denunciado por trabalho escravo. A denúncia contra as crianças que trabalhavam pra Nike tem tanto tempo que a gente nem lembra mais, e de lá pra cá, parece que tudo piorou por aí. A Nike adotou políticas e fiscalizações pra minimizar os problemas. A Gap fez a mesma coisa. Ambas toparam também um acordo de transparência com os clientes em que se comprometem a informar, fiscalizar e analisar a cadeia de produção. Complicado quando pensamos que isso envolve fábricas nos recantos mais pobres do mundo. Mais complicado ainda quando a gente sabe que muitas das "it bags" falsas que se compram por aí são peças que não passaram no controle de qualidade das próprias fábricas que as confeccionam. 

Nós temos poucas ferramentas pra saber a real procedência das coisas que consumimos. Mas as notícias tristes estão por aí, dando nome e expondo diversas marcas cujo mote principal é vender a qualquer (baixo) custo. Ficar um ano sem Zara pra alimentar umbigo é fácil. A gente vai escolher qual motivo?